quarta-feira, 10 de março de 2010

Pastor perde carteira com dinheiro e documentos e cobrador de ônibus acha e entrega tudo sem pedir recompensa




Se você encontrasse uma carteira com R$ 700, devolveria ao dono? A pergunta pode suscitar dúvidas, mas o cobrador de ônibus Lucimar Rodrigues de Oliveira, 49 anos, morador de Santa Maria, garante não ter pensado duas vezes e optou pela honestidade. Na quarta-feira última, ele encontrou a carteira em um banco do ônibus no qual trabalha cheia de dinheiro e cartões de crédito, além de documentos. Ontem, Lucimar devolveu o conteúdo intacto ao dono, o pastor Lucivagner Gonzaga, 30 anos. O encontro ocorreu no terminal de ônibus do Núcleo Bandeirante. A quantia encontrada pelo rodoviário é superior ao seu salário, ele ganha R$ 620, por seis horas diárias de trabalho, com apenas uma folga por semana.

O valor pagaria pelo menos três meses do aluguel da casa modesta de dois quartos na qual o cobrador vive com a mulher, a servente Francisca de Oliveira, 40 anos, e três filhos adolescentes. Mas Lucimar não teve dúvidas e se esforçou para encontrar o proprietário. Lucimar achou na carteira o cartão de uma locadora de filmes e entrou em contato. O dono do comércio passou o telefone do cliente, para facilitar a boa ação.
Antes de receber a ligação, Lucivagner não esperava receber seus pertences de volta. “Saquei o dinheiro para pagar algumas contas e viajar. Peguei o ônibus no aeroporto para vir para casa, no Núcleo Bandeirante. A carteira caiu e eu não vi. Estava desesperado quando Lucimar me ligou. Ele me tranquilizou dizendo que ia me devolver tudo, sem pedir nada em troca”, relatou Lucivagner.
Ao resgatar a carteira, o pastor ofereceu parte do dinheiro ao cobrador, que negou de imediato. “Não quero nada que não é meu. Não me sinto bem. Se eu não entregasse ia prestar contas para Deus”, explicou. Sem os documentos, o pastor não poderia viajar ontem para Recife, a trabalho. “Estou de mudança e ia ficar muito prejudicado se não pudesse embarcar. Seu Lucimar é muito abençoado”, agradeceu.
Lucimar é maranhense, nascido no Alto Parnaíba. Mudou-se para o Distrito Federal há 28 anos, em busca de melhores condições de vida. Há 11 anos, conseguiu trabalho como cobrador na Rápido Brasília, na Linha 073.1, que faz o percurso Núcleo Bandeirante/Lago Sul, passando pelo Aeroporto Internacional de Brasília Não é a primeira vez que ele encontra os bens de alguém e devolve. “Já levei celular de volta pro dono, outras carteiras. O povo anda muito esquecido, deixando as coisas no ônibus. Fico muito insatisfeito quando algum colega não devolve”, disse Lucimar.


Bom exemplo


O cobrador aprendeu desde cedo, em casa, a ser honesto e a não querer o que é dos outros. “Meus pais sempre foram honestos, mesmo vivendo com pouco. Nunca tive mau exemplo”, afirmou o cobrador. A igreja, segundo ele, também o ensinou a ser solidário. “Vou duas vezes por semana ao culto. Sou evangélico e acredito que não pegando nada dos outros para mim só tenho a ganhar. A honestidade é uma coisa que vem de Deus”, acredita. Lucimar também é músico e toca violão na igreja. “Com esse gesto, eu espero também desfazer a imagem ruim que algumas pessoas têm dos cobradores e motoristas”, explicou.
Entre os outros rodoviários do terminal do Núcleo Bandeirante, há quem considere a atitude de Lucimar equivocada. “Se eu encontrasse não devolveria. Porque se alguém achasse a minha carteira dificilmente ia me dar ela de volta. Eu ia aproveitar esse dinheiro”, confessou o cobrador Deivid Gladino, 23 anos, morador de Planaltina. Alguns até fazem planos para gastar o dinheiro, caso um dia encontrem algum perdido por aí. “Ia comprar quatro pneus para o meu carro. Se achasse R$ 20 eu devolvia, mas R$ 700 não. Quem devolve é exceção”, admitiu o motorista Cláudio Mendes, 38 anos, que vive em Sobradinho
Fonte: GNOTICIAS

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